Rosa Luxemburgo e Liebknecht: cem anos da revolução alemã

Gustavo Codas

A revolução alemã que se deflagrou ao final de 1918 foi provavelmente a mais importante do século 20. Os operários e soldados da pátria de Karl Marx iniciaram uma revolução proletária em uma das economias capitalistas mais desenvolvidas – tal como era a previsão do marxismo clássico. Como esperavam ele e Engels quando discutiram a possibilidade de uma revolução socialista na Rússia atrasada, uma Alemanha com um governo dos trabalhadores poderia ir em socorro dela para ajudá-la na transição ao socialismo.

Era também o que esperavam os bolcheviques, que, tendo em vista que os países do capitalismo desenvolvido estavam embrenhados na sangrenta guerra imperialista iniciada em 1914, viam a revolução russa como um detonador de uma onda revolucionária no continente. Em finais daquele ano, o melhor das análises e projeções do marxismo estava sendo cumprido.

Mas a revolução alemã foi derrotada em começos de 1919. E, com isso, a Rússia soviética teria de fazer a transição ao socialismo sem o apoio da indústria de um país capitalista avançado. O socialismo no século 20 só seria desenvolvido a partir de países atrasados, experiência que na prática terminou em 1991.

É preciso então estudar e entender o acontecido. Não foi uma revolução realizada “contra” a Segunda Internacional Socialista. Boa parte dos dirigentes que a lideraram foram formados na sua ortodoxia; outra, minoritária, dirigida por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht  eram dissidentes desde o começo da guerra em 1914. Na Bavária tentou-se ainda uma experiência que combinava Conselho Operário com Assembleia Legislativa, ao contrário da experiência russa, que opôs o órgão de democracia direta ao da democracia representativa.

Como na Rússia, foram as penúrias impostas pela guerra imperialista que criaram as condições para a revolução. Como lá, também os socialistas alemães se dividiram. O Kaiser abandonou o país e uma manobra do alto mando militar entregou o governo aos social-democratas moderados, de forma que a capitulação que pusesse fim à guerra fosse responsabilidade exclusiva dos socialistas.

Também em ambas experiências se desenvolveram conselhos de operários e soldados em boa parte dos centros urbanos ao tempo que existia um governo provisório. A diferença foi que, na Alemanha, o setor que queria deter o processo revolucionário em uma república burguesa ganhou a disputa, aliando-se com setores da extrema-direita, ambos interessados em derrotar os conselhos operários e a revolução socialista, utilizando inclusive a violência de bandos paramilitares integrados por  soldados desmobilizados, embrião do que viriam a ser os grupos nazistas.

O assassinato de Rosa e Liebknecht, em janeiro de 1919, foi um marco dessa política repressiva. Foram milhares de operários social-democratas mortos em combate – entre revolucionários e bandos armadas da direita  –,  assim como os presos fuzilados. Sob essa derrota da revolução, foi convocada uma Constituinte que daria origem à “República da Weimar”, com algumas conquistas sociais e trabalhistas que seriam reivindicadas pelos socialistas que venceram. Como se sabe, a história não se deteve em esse ponto, mas isso já é tema para outros estudos.

Lamentavelmente há pouquíssima literatura disponível em português sobre essa história. O principal livro publicado no Brasil e ainda disponível em livrarias é A revolução alemã (1918-1923), de Isabel Loureiro (Editora Unesp, 2005), que inclui o estudo de uma segunda vaga revolucionária liderada já pelos comunistas que vai até 1923. Só nos sebos é possível encontrar também A revolução alemã. Mitos e versões, de Daniel Aarão Reis Filho (Ed. Brasiliense). E, em espanhol, está disponível na biblioteca digital Gênesis ( http://libgen.io/ ) o livro La revolución alemana de 1918-1919, de Sebastian Haffner (Ed. Inédita).

Gustavo Codas, Economista paraguayo.

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